Influenciadores e o escândalo do Jogo do Tigrinho: o brilho falso das redes sociais

Nos últimos meses, o Brasil tem assistido a uma série de investigações que escancararam os bastidores sombrios de um fenômeno digital: o “Jogo do Tigrinho”. Prometendo ganhos rápidos e fáceis, essa plataforma de apostas online conquistou espaço nas redes sociais com a ajuda de influenciadores — alguns deles com milhões de seguidores. No entanto, por trás dos vídeos cheios de empolgação e ostentação, há um esquema que, agora, é alvo de operações policiais em diversos estados do país.

Logo de início, vale destacar que o jogo, cujo nome verdadeiro é Fortune Tiger, não possui regulamentação no Brasil. Isso significa que, legalmente, ele se enquadra como jogo de azar — uma atividade proibida por lei desde 1946. Ainda assim, a promessa de dinheiro fácil atraiu milhares de usuários, incentivados principalmente por celebridades da internet que exibiam supostos ganhos astronômicos em tempo real. Mas esses “lucros” muitas vezes vinham de contas de demonstração, fornecidas pelas próprias plataformas para simular resultados positivos e atrair novos apostadores.

De influenciadores regionais aos gigantes da web

Inicialmente, as investigações focaram em nomes menos conhecidos. A Operação Gizé, por exemplo, realizada em março de 2025 no Ceará, prendeu os influenciadores Victória Oliveira, Milena Peixoto e Janisson Moura, todos residentes em Juazeiro do Norte. As autoridades descobriram que eles usavam contas falsas para convencer seus seguidores de que estavam ganhando grandes quantias no jogo. Essa prática foi considerada propaganda enganosa, com potencial de causar sérios prejuízos financeiros aos seguidores.

No entanto, as investigações não pararam por aí. Conforme os inquéritos avançaram, nomes muito mais conhecidos passaram a aparecer. Um dos casos que mais chocou o público foi o do casal Ianka Cristini e Bruno Martins, que acumulam mais de 17 milhões de seguidores. Em janeiro de 2025, ambos foram presos em Balneário Camboriú (SC), suspeitos de promover o “Jogo do Tigrinho” como método para enriquecer rapidamente. Em suas redes, ostentavam carros de luxo, viagens e uma rotina de alto padrão. Após a prisão, a polícia apreendeu veículos como uma McLaren 720 Spider e uma BMW X6, além de bloquear contas bancárias com valores expressivos.

Quando o entretenimento vira crime

Outra figura central nesse escândalo é a influenciadora Deolane Bezerra. Conhecida por sua participação em reality shows e por seus posicionamentos polêmicos, ela também foi alvo de investigação. Em setembro de 2024, a Operação Integration, comandada pela Polícia Civil de Pernambuco, incluiu o nome de Deolane após ela aparecer em um vídeo apostando no “Jogo do Tigrinho” — nada menos do que sobre uma geladeira de R$ 30 mil. Embora ela tenha alegado que não via problema em divulgar o jogo, o Ministério Público enxerga a atitude como incitação ao crime.

Para completar, até nomes do meio artístico passaram a ser citados. O cantor Gusttavo Lima, por exemplo, teve seu avião particular apreendido em meio a uma operação que investigava o uso de plataformas ilegais de apostas. Embora não haja confirmação de envolvimento direto com o Jogo do Tigrinho, o fato de seu nome constar nas investigações gerou especulações e críticas nas redes sociais. Até o momento, o artista não se pronunciou.

Consequências legais e sociais

Do ponto de vista jurídico, os influenciadores podem responder por estelionato, propaganda enganosa e associação criminosa. Especialistas em direito digital alertam que, mesmo que os sites sejam hospedados no exterior, a promoção de jogos ilegais dentro do Brasil é passível de penalidade — especialmente quando envolve manipulação de audiência e promessa de lucro fácil.

Além disso, o impacto social desse tipo de prática é profundo. Muitos seguidores, confiando nos criadores de conteúdo que acompanham diariamente, foram levados a apostar valores altos — e perderam tudo. Relatos emocionados tomaram conta dos comentários nas redes. Uma seguidora escreveu: “Confiei, fiz o depósito e perdi meu salário inteiro. Não sei como vou pagar minhas contas.”

Um alerta para os tempos atuais

Diante desse cenário, fica claro que o papel do influenciador vai muito além de entreter. Eles exercem um poder real sobre a tomada de decisão dos seus seguidores — principalmente quando lidam com públicos jovens ou em situação de vulnerabilidade financeira. Por isso, é urgente refletir sobre a responsabilidade que acompanha a influência digital.

Enquanto as investigações seguem, uma lição permanece: nem tudo que reluz no Instagram é ouro. Quando a promessa parece boa demais para ser verdade, provavelmente é. Ao se deparar com propostas de dinheiro rápido, ganhos fáceis e ostentação desenfreada, o melhor caminho ainda é o da desconfiança e da informação. Afinal, nas redes, a linha entre sucesso e manipulação pode ser muito mais tênue do que parece.


Continue acompanhando o Entretem News para mais novidades.

Rolar para cima